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Xeque-Mate

Paul Morphy e o quadro “Checkmate”: a História Real por trás da Lenda

No final do século XIX, uma história curiosa passou a circular entre enxadristas e admiradores da arte: a do lendário campeão de xadrez Paul Morphy (1837–1884) e uma pintura enigmática chamada “Checkmate” (“Xeque-Mate”).
A narrativa, que resiste ao tempo com traços quase míticos, tem raízes reais — mas também conta com algumas variações criativas que merecem ser esclarecidas.

Apesar de não ser um texto que pertença ao nicho deste site (teologiareformada.com.br), recentemente usamos parte dessa história para ilustrar a verdade bíblica da esperança em Cristo. Então, pelo nosso compromisso com a verdade dos fatos, decidimos publicar o resultado do nosso apanhado histórico sobre a obra “Xeque-mate” e famoso jogador de xadrez que percebeu que o jogo não estava perdido.

O Encontro com a Obra

O registro mais antigo conhecido da história entre Paul Morphy e a famosa pintura Checkmate, de Friedrich Moritz August Retzsch¹, foi publicado em 18 de agosto de 1888, na revista Columbia Chess Chronicle². A narrativa, intitulada “Anecdote of Morphy“, foi escrita por Gilbert R. Frith, e relata um episódio que teria ocorrido anos antes, na casa do Reverendo R. R. Harrison, em Richmond, no estado da Virgínia.

Segundo Frith, Morphy estava em uma visita à residência do reverendo quando se deparou com uma cópia da litografia de Retzsch pendurada na parede. Ali, alguns convidados observavam a obra e comentavam sobre o triste destino do jovem retratado: aparentemente derrotado em um duelo de xadrez contra uma figura demoníaca (Figura 1).

Figura 1: Pintura “Checkmate” (“Xeque-Mate”) de Friedrich Retzsch, 1831.

Pintura Xeque-mate

Ao se aproximar e estudar atentamente a gravura, Morphy teria surpreendido a todos com sua análise: afirmou que, apesar da situação parecer sem saída, o jovem ainda tinha um movimento que poderia lhe garantir a vitória. Para comprovar seu ponto, Morphy pediu que trouxessem um tabuleiro e, reposicionando as peças conforme a cena da gravura, demonstrou como a partida poderia ser vencida.

O relato de Frith foi publicado nestes termos:

Anecdote of Morphy
“Some years ago, I was spending an evening at the residence of the Rev. R. R. Harrison, in Richmond, Virginia, in company with Mr. Morphy and others.
On the wall hung a copy of Retzsch’s celebrated painting entitled Checkmate.
After a casual glance, the conversation turned to the picture and the apparent sad fate of the young man who seemed completely defeated.
Morphy, who had been studying the picture silently, suddenly exclaimed, ‘He still has a move!’
A board was produced, the position set up, and Morphy demonstrated that the supposed defeat could be turned into victory.”
— Columbia Chess Chronicle, 18 ago. 1888.

Tradução:

Anedota de Morphy
“Há alguns anos, eu passei uma noite na residência do Reverendo R. R. Harrison, em Richmond, Virgínia, na companhia do Sr. Morphy e de outros.
Na parede, pendia uma cópia da célebre pintura de Retzsch intitulada Checkmate.
Após uma olhada casual, a conversa se voltou para a imagem e para o aparente triste destino do jovem, que parecia completamente derrotado.
Morphy, que estudava silenciosamente a gravura, de repente exclamou: ‘Ele ainda tem uma jogada!’
Um tabuleiro foi providenciado, a posição montada, e Morphy demonstrou que a suposta derrota poderia ser transformada em vitória.”

O relato causou grande interesse, mas também levantou dúvidas entre os leitores. Algumas semanas depois, a revista recebeu uma carta do próprio Reverendo R. R. Harrison, confirmando a veracidade do episódio e endossando publicamente o relato de Frith. Harrison escreveu:

“Há alguns anos, eu tinha uma cópia da célebre gravura Checkmate de Moritz Retzsch pendurada em meu quarto. Enquanto vários de nós a observávamos e comentávamos sobre o aparente destino triste do jovem, que parecia ter sido derrotado, Morphy entrou.
Ele logo se interessou pela gravura e, após alguns momentos de estudo silencioso, disse: ‘O jovem ainda tem um movimento.’
Pediu um tabuleiro de xadrez e então demonstrou que a posição, tida como xeque-mate, poderia ser convertida em uma vitória para o jovem.”
— Rev. R. R. Harrison, Richmond, Virgínia.

É importante destacar que versões posteriores desta história — como a ambientação no Museu do Louvre³, em Paris — não são confirmadas pelos registros históricos. Essas adaptações parecem ter surgido muito tempo depois, em recontagens populares que romantizaram ainda mais o episódio.

Assim, de acordo com a fonte primária confiável de 1888, o evento ocorreu em um ambiente doméstico, na casa do Reverendo Harrison, com testemunhas que conheciam pessoalmente Paul Morphy, poucos anos antes de sua morte.

As Variações da História

Com o passar do tempo, surgiram diversas versões da história. Uma das mais famosas diz que Morphy teria visto a pintura durante uma visita ao Museu do Louvre, em Paris.
Essa versão, porém, não possui qualquer comprovação histórica. Não há registro de que a gravura estivesse exposta no Louvre, nem de que Morphy tenha protagonizado essa cena no museu francês³.

Outra variação romântica sugere que, ao perceber a jogada salvadora, Morphy teria emocionado profundamente os observadores — quase como se tivesse “redimido” o jovem da pintura. Embora bela, essa interpretação também parece ter sido adicionada depois, provavelmente para dar um toque dramático à narrativa original.

O Legado da História

Independentemente das adaptações ao longo do tempo, a essência do episódio revela algo profundamente verdadeiro sobre Paul Morphy: sua habilidade incomparável para enxergar possibilidades ocultas, até mesmo em situações que pareciam perdidas.
Morphy, considerado um dos maiores enxadristas de todos os tempos, tinha um dom especial para compreender a dinâmica do tabuleiro com uma velocidade e profundidade que poucos conseguiram igualar.

O quadro de Retzsch permanece como um símbolo poderoso — não apenas da luta entre bem e mal, mas também da percepção aguçada necessária para ver esperança onde outros só veem derrota.

Hoje, mais de um século depois, a história entre Morphy e Checkmate continua fascinando tanto artistas quanto jogadores de xadrez, lembrando-nos que, às vezes, a vitória está a apenas uma jogada de distância — mesmo quando tudo parece perdido.


Notas de Rodapé

¹ Friedrich August Moritz Retzsch (1779–1857) foi um artista alemão famoso por suas ilustrações para obras literárias clássicas, como “Fausto”, de Goethe.

² Columbia Chess Chronicle (1888): considerado o primeiro periódico de xadrez dos Estados Unidos, publicava análises, partidas e relatos históricos do mundo enxadrístico.

³ O Museu do Louvre é um dos mais famosos do mundo, localizado em Paris, França. Embora possua uma vasta coleção de obras de arte, não há registros históricos oficiais ligando o quadro Checkmate à sua exposição permanente ou temporária.

Bibliografia

COLUMBIA CHESS CHRONICLE. Anecdote of Morphy. Columbia Chess Chronicle, v. 1, n. 6, p. 41, 18 ago. 1888. Disponível em: https://books.google.com/books?id=OKXzAAAAMAAJ&pg=PA41. Acesso em: 28 abr. 2025.

COLUMBIA CHESS CHRONICLE. Morphy and the “Checkmate” Picture. Columbia Chess Chronicle, v. 1, n. 7, p. 49, 1º set. 1888. Disponível em: https://books.google.com/books?id=OKXzAAAAMAAJ&pg=PA49. Acesso em: 28 abr. 2025.

RETZSCH, Friedrich August Moritz. Die Schachspieler [gravura]. 1831.


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2 Comentários:
  • Alfred1584 disse:
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