Em tempos de crescente confusão espiritual, muitos cristãos sinceros têm se perguntado: Pode um crente em Jesus Cristo ser afetado por mau-olhado, magia, inveja ou outras obras das trevas? Há mesmo pessoas que temem “dar brecha” e acabar sendo vítimas de forças demoníacas. Esse tipo de dúvida cresce à medida que se espalham doutrinas desequilibradas sobre “batalha espiritual”, maldições hereditárias, quebra de encantamentos e outras práticas semelhantes. Para responder com clareza, precisamos recorrer à Palavra de Deus, evitando os extremos e focando na verdade revelada.
A realidade das forças espirituais do mal
A Bíblia não nega — pelo contrário, afirma com clareza — a existência de Satanás e dos demônios. São anjos caídos que se rebelaram contra Deus e estão em constante oposição a Ele e ao Seu povo. Esses seres malignos ainda não estão confinados ao inferno, mas atuam no mundo, procurando destruir, enganar e afastar as pessoas da verdade.
A ação demoníaca pode se manifestar de várias formas. A mais comum é a tentação, pela qual o maligno busca conduzir o ser humano ao pecado. A queda de Adão e Eva e a tentação de Jesus no deserto são exemplos bíblicos marcantes. Outra forma de atuação é a opressão espiritual — uma pressão contínua, pesada e desestabilizadora que pode gerar desânimo, confusão, medo ou desespero, como vemos na vida do rei Saul. Finalmente, a possessão demoníaca, que é o domínio direto sobre a mente e o corpo de alguém, aparece claramente nos Evangelhos.
Todas essas manifestações mostram que o mundo espiritual é real e perigoso. A Bíblia adverte contra práticas ocultistas, invocação de mortos, feitiçarias e pactos com demônios, pois são portas para o domínio dessas forças.
Os demônios obedecem ao homem?
Um dos grandes enganos presentes em muitos círculos religiosos é a ideia de que o ser humano pode “usar” ou “comandar” demônios para realizar desejos — como se fosse possível dominar as trevas com rituais, objetos ou palavras mágicas. A verdade bíblica, no entanto, é totalmente oposta: quem busca fazer uso dos poderes malignos está, na verdade, entrando em escravidão. Os demônios não obedecem às ordens humanas — muito menos das pessoas que não têm comunhão com Deus. Eles enganam, iludem e, no fim, destroem.
Como Nicodemus afirma com propriedade, “quem os invoca crendo estar dando-lhes ordens […] está se enredando em uma teia de jugo e morte”. A suposta autoridade que o ocultismo oferece é, na verdade, uma armadilha mortal.
E quanto ao cristão? Pode ser possesso ou amaldiçoado?
Esse é o ponto central para os filhos de Deus. A Bíblia afirma, de forma inequívoca, que o cristão verdadeiro não pode ser possuído por demônios. Por quê? Porque ele já está habitado pelo Espírito Santo de Deus (1Co 6.19). Cristo o libertou do império das trevas e o transportou para o reino da luz (Cl 1.13). Não há como um mesmo coração ser templo do Espírito e, ao mesmo tempo, habitação de demônios.
Alguns alegam que, se o cristão “der brecha”, poderá ser possuído. Essa ideia, porém, não encontra base sólida na Escritura. Um dos textos mais citados para apoiar essa teoria é Mateus 12.43–45, onde Jesus fala do espírito maligno que volta para a “casa” de onde saiu, trazendo consigo outros sete. No entanto, como o próprio Augustus Nicodemus esclarece, esse texto não trata de cristãos, mas sim de uma geração incrédula que rejeitou a Cristo, apesar de terem presenciado seus milagres e purificação espiritual. Jesus não estava ensinando sobre possessão em crentes, mas sobre o agravamento espiritual daqueles que o rejeitam após terem sido expostos à Sua verdade.
Portanto, o cristão pode ser tentado e até mesmo oprimido espiritualmente — mas jamais possuído.
E quanto ao mau-olhado, inveja e feitiçarias?
Muitos crentes sinceros têm medo de serem atingidos por feitiços, encantamentos ou o chamado “mau-olhado”. Contudo, a Escritura é clara:
“Contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel.”
(Números 23.23)
Esse princípio espiritual continua válido para o povo de Deus. Quem está em Cristo está protegido. Como Paulo afirma em Romanos 8.1:
“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.”
E em 1 João 5.18, lemos:
“Aquele que nasceu de Deus o protege, e o maligno não o toca.”
Isso significa que nenhuma maldição, trabalho espiritual, praga ou olho invejoso tem qualquer poder real sobre quem foi justificado, redimido e selado com o Espírito Santo. Os ataques podem vir, mas não têm eficácia contra os redimidos. Deus é o nosso escudo.
Mas e as dificuldades e sofrimentos? São obras do diabo?
Essa é uma pergunta honesta. Muitas vezes, os cristãos enfrentam provações difíceis — perdas, enfermidades, desemprego, conflitos familiares — e ficam sem saber se estão debaixo de um ataque espiritual ou se estão sendo provados por Deus. A verdade é que, biblicamente, ambas as situações podem ocorrer.
Deus pode permitir sofrimentos para o nosso crescimento espiritual (Jo 15.2; Rm 5.3–5). Por outro lado, o inimigo pode tentar nos atingir para nos afastar da fé (Ef 6.11–13). No entanto, a origem exata do sofrimento não muda a nossa resposta: resistir ao mal, fugir do pecado, perseverar em obediência e buscar a santidade. Sejamos firmes nessa conduta.
Em todas as situações, confiamos que Deus é soberano. Mesmo aquilo que o diabo intenta para o mal, o Senhor transforma em bem para os seus (Gn 50.20; Rm 8.28).
Conclusão: o cristão está seguro em Cristo
Vivemos num mundo cheio de confusão espiritual, superstições e medo. Muitos tentam proteger-se com amuletos, palavras mágicas ou rituais. Mas o cristão sabe: nossa segurança não está em objetos ou ações humanas, mas no poder de Deus que habita em nós.
Não precisamos temer o mau-olhado, a inveja, os encantamentos ou as forças das trevas. Cristo venceu o maligno na cruz. E o Espírito Santo, que habita em nós, é infinitamente maior que qualquer força contrária:
“Maior é aquele que está em vocês do que aquele que está no mundo.”
(1 João 4.4)
Por isso, não ande em temor, mas na firme certeza de que, se você pertence a Cristo, está seguro, protegido e guardado por Aquele que tem todo o poder nos céus e na terra. Viva com discernimento, mas sem medo. Recuse os extremos e abrace a verdade da Escritura: o Filho de Deus liberta, guarda e sustenta os seus até o fim.
Referências
BÍBLIA. Nova Almeida Atualizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.
NICODEMUS, Augustus. Cristianismo bem explicado. São Paulo: Mundo Cristão, 2021.