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Bíblia Sagrada

Sola Scriptura: A Supremacia das Escrituras na Fé Reformada

O que significa Sola Scriptura?

A expressão latina Sola Scriptura significa “somente a Escritura” e reflete a convicção central dos reformadores de que Deus revelou Sua vontade salvadora exclusivamente nas Escrituras. Isso implica que todas as doutrinas e práticas da igreja devem ser fundamentadas unicamente na Bíblia.

Os reformadores introduziram esse princípio em resposta ao ensino da Igreja Católica Romana, que sustentava que a revelação divina ia além das Escrituras, incluindo a tradição e o magistério da igreja como fontes igualmente autoritativas. Dessa forma, doutrinas e práticas não encontradas explicitamente na Bíblia, como a veneração de imagens e a doutrina do purgatório, foram introduzidas na Igreja Católica. Por isso, Sola Scriptura afirma que a revelação de Deus já foi registrada de maneira total, infalível e suficiente no Antigo e no Novo Testamento.

A Importância de Sola Scriptura na Reforma

Os reformadores defenderam esse princípio para combater a visão católica de que Escritura, tradição e magistério possuíam a mesma autoridade. O Concílio Vaticano II (1962) reafirmou essa crença católica, enfatizando que a igreja tem a autoridade para interpretar tanto a Bíblia quanto a tradição. Isso significa que, na prática, a verdadeira autoridade na Igreja Católica não é a Escritura, mas a própria igreja (sola ecclesia).

Em contraste, os reformadores colocaram a Escritura no centro da teologia reformada, fazendo dela o fundamento sobre o qual se baseiam todas as outras doutrinas cristãs. Isso explica por que Sola Scriptura geralmente aparece primeiro na lista dos cinco solas da Reforma. Sem a Escritura como única regra de fé e prática, não há base segura para falar sobre fé, graça, Cristo e a glória de Deus.

Qual Escritura?

A afirmação Sola Scriptura pressupõe a existência de um cânon bíblico inspirado por Deus. No entanto, há diferenças entre o cânon aceito pelos reformados e pelos católicos:

  1. Cânon Protestante (66 livros): Inclui os 39 livros do Antigo Testamento, reconhecidos pelos judeus e citados por Jesus e pelos apóstolos, e os 27 livros do Novo Testamento, que foram reconhecidos com base na autoria apostólica, coerência com o ensino de Cristo e dos apóstolos, e aceitação geral das igrejas.
  2. Cânon Católico (73 livros): No Concílio de Trento (1546), a Igreja Católica incluiu sete livros adicionais do Antigo Testamento (os chamados apócrifos ou deuterocanônicos), que nunca foram reconhecidos pelos judeus nem pelos primeiros cristãos como inspirados.

O cânon de 66 livros sempre foi aceito pela igreja primitiva. Muitos dos livros adicionados posteriormente contêm doutrinas que entram em contradição com o ensino apostólico, o que justifica sua exclusão do cânon reformado.

O que Sola Scriptura NÃO significa

Para evitar mal-entendidos, é importante destacar o que essa doutrina NÃO ensina:

  1. Não significa que possuímos os manuscritos originais da Bíblia.
  2. Não afirma que a Bíblia é clara em absolutamente todos os assuntos.
  3. Não nega que a Igreja Católica aceite a Bíblia como Palavra de Deus. O que se discute é se ela é a única revelação salvadora de Deus.
  4. Não rejeita outras fontes de conhecimento, como a natureza ou a razão.
  5. Não significa que todos os outros livros religiosos são completamente falsos.
  6. Não exige que cada decisão cristã tenha um versículo específico como base. Podemos usar deduções lógicas e a sabedoria pastoral.
  7. Não nega que Deus nos guia diariamente por meio da providência.

O que Sola Scriptura realmente ensina

  1. A Bíblia contém toda a revelação salvadora de Deus. Após o fechamento do cânon, cessaram as revelações diretas de Deus, como visões e profecias. Tudo o que precisamos para a salvação está claramente registrado na Escritura.
  2. A autoridade da Escritura não depende da Igreja. A tradição pode ser útil, mas não tem autoridade divina. A Bíblia se autovalida por meio do testemunho do Espírito Santo no coração do crente.
  3. A Escritura é a única regra de fé e prática dentro da igreja. Nenhuma outra fonte tem a mesma autoridade.
  4. A Bíblia deve ser acessível a todos os cristãos, para que possam verificar a veracidade dos ensinos que recebem. Durante a Idade Média, a Igreja Católica restringiu o acesso das pessoas comuns à Bíblia, reforçando a ignorância espiritual e a corrupção doutrinária.
  5. A Bíblia interpreta a si mesma. Os reformadores enfatizaram a harmonia entre a Escritura e o Espírito Santo, que ilumina os crentes para compreender a Palavra de Deus. O sentido literal da Bíblia deve ser priorizado, exceto quando o próprio texto indicar uma interpretação alegórica.

Implicações Práticas de Sola Scriptura

  1. Leitura, estudo e meditação constante na Palavra de Deus.
  2. Análise crítica de sermões, livros e ensinos à luz das Escrituras.
  3. Vivência fiel da Bíblia em nossa vida cristã diária.

Conclusão

Sola Scriptura foi um dos pilares da Reforma Protestante e continua sendo um princípio inegociável da fé reformada. A Bíblia é suficiente, inerrante e autoritativa. Nela, encontramos tudo o que é necessário para a salvação e para a vida cristã. Sem ela como base, não há fundamento seguro para a doutrina e a prática da igreja.

Que possamos, como os reformadores, nos firmar na Palavra de Deus, examinando todas as coisas e retendo o que é bom (1Ts 5.21), confiando que a Escritura, inspirada por Deus, é útil para ensinar, repreender, corrigir e instruir em justiça (2Tm 3.16-17).


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